É engraçado, como de uns dias pra cá, muitas pessoas me questionaram sobre o mercado de refrigerantes.
Os curiosos perguntam tudo: como é feito, se engorda, se emagrece, perguntam das lendas urbanas em torno do produto e, não surpreendendo-me, perguntam sobre a coca-cola. Eu me impressiono com a curiosidade popular em torno da tal "fórmula secreta". Na verdade, a "grande sacada" da coca-cola foi tornar a fórmula um segredo. Esse fato gera uma curiosidade sem-fim e consequentemente um marketing hiper eficaz.
Existem equipamentos de laboratório que são capazes de dar a lista e as quantidades de todos os compostos químicos presentes na solução. Uma envasadora da coca-cola é basicamente igual a qualquer outra fabrica de refrigerantes nesse e em outro mundo, com os mesmos processos e equipamentos. E aí, onde está a diferença? Talves a ordem de formulação, talves os processos físicos para chegar a tal, talves o famoso "7X", extrato "secreto" que vem de avião para as envasadoras... não sei, mas eu costumo responder que o sabor da coca-cola começa no RÓTULO!
Isso mesmo! No rótulo. Quando fazemos ensaios sensoriais, descobrimos que o ambiente que cerca o provador interfere a percepção sensorial do produto. Logo, aquele cartaz na lanchonete, aquele freezer gelado, o ursinho tomando coca e, por fim, a embalagem de coca, com o rótulo e a marca mais forte do planeta. Começamos a sentir o gosto na hora que olhamos a marca. E isso realmente não tem nada a ver com química nem engenharia.
Leiam abaixo o trecho do livro "Por Deus, Pela Pátria e Pela Coca-Cola", de Mark Pendergrast.
A despeito de todo o mistério e paranóia acumulados em torno da fórmula famosa, certo dia um porta-voz da companhia baixou a guarda quando perguntei o que aconteceria se eu publicasse neste livro a fórmula autêntica, com instruções detalhadas. Ele sorriu largamente. "Mark", disse, "digamos que este é o seu dia de sorte. Acontece que tenho, aqui mesmo em minha mesa, uma cópia da fórmula.'' Abriu a gaveta e me entregou um documento fantástico.
- "Aí está. Agora, o que é que vai fazer com ela?"
- "Bom, vou incluí-Ia no meu livro."
- "E ... ?"
- "Alguém pode resolver estabelecer-se e concorrer com a The Coca-Cola Company."
- "E que nome ele vai dar ao produto?"
- "Bem, não poderá chamá-lo de Coca-Cola porque vocês o processariam. Vamos dizer que o chamem de Yum-Yum, e que insinuem, de uma forma a não dar razão a um processo judicial, que a Yum-Yum é na verdade a fórmula original da Coca-Cola."
- "Ótimo. E daí? Quanto vão cobrar por ela? Como vão distribuí-la? Como vão divulgá-la? Está entendendo aonde quero chegar? Gastamos mais de 100 anos e volumes inacreditáveis de dinheiro construindo o capital dessa marca. Sem nossas economias de escala e nosso inacreditável sistema de comercialização, quem quer que tentasse duplicar nosso produto não chegaria a lugar nenhum e teria que mudar coisas demais. Por que alguém se daria ao trabalho de ir comprar Yum-Yum, que é realmente igual à Coca-Cola mas que custa mais, quando pode comprar a Coisa Real em todo o mundo?''
Não consegui pensar em coisa alguma para dizer.
Extraído na íntegra de "Por Deus, Pela Pátria e Pela Coca-Cola", de Mark Pendergrast. Apêncice pág 379-383. Editora Ediouro, 1993. O livro "coincidentemente" sumiu das livrarias e sebos do país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário